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Como aplicar IA ao recrutamento sem prejudicar pessoas com deficiência

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O uso de inteligência artificial tem sido crescente em processos de recrutamento. De fato, a tecnologia se mostra bastante útil à medida que facilita o processo de organização e triagem de candidaturas ao, por exemplo, atribuir escores a candidatos a partir de suas características e, assim, informar decisões de recrutadores.

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Contudo, como não poderia ser diferente, há riscos. Casos recentes contam várias histórias de pessoas que acabaram prejudicadas em processos de recrutamento, por causa da captura e análise tecnológica de traços e aspectos diversos, como vestimentas, origem do nome, menções a colégios frequentados apenas por pessoas de determinado gênero e até itens que aparecem em segundo plano durante uma entrevista.

Recrutamento e seleçãoFonte: Shutterstock

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Preocupados com essa realidade, em especial no que diz respeito às pessoas com deficiência (PCDs), nos Estados Unidos, o Departamento de Justiça (DOJ) e a Comissão de Oportunidades de Emprego Igualitárias (EEOC), neste último mês de maio, publicaram orientações para que as organizações assegurem a adequada aplicação de inteligência artificial em processos de recrutamento visando à preservação de direitos dos indivíduos envolvidos.

Na visão dessas instituições, recrutadores devem:

  • Providenciar adaptações razoáveis a candidatos com deficiência. Portanto, é preciso treinar empregados para (i) reconhecer e atender pedidos de adaptação o mais rápido possível (exemplos: pedidos para refazer o teste ou ser avaliado de forma alternativa após resultados insatisfatórios); (ii) desenvolver formas alternativas de avaliação de candidatos solicitantes de adaptação; e (iii) caso empreguem terceiros para administrar as solicitações de candidatos, demandar que encaminhem prontamente os pedidos de adaptação recebidos ou, então, prestem pronto atendimento direto aos candidatos.

Mapear e mitigar riscos chega a ser mais do que uma boa prática.

  • Minimizar os riscos de que as decisões prejudiquem, de forma intencional ou não, pessoas com deficiência. Portanto, é preciso (i) utilizar tecnologias de tomada de decisão projetadas e testadas com olhar para a acessibilidade e os variados tipos de deficiência; (ii) informar os candidatos da possibilidade e dos meios para solicitação de adaptações; e (iii) descrever, em linguagem simples e acessível, o funcionamento do algoritmo, com indicação geral de fatores que podem afetar a classificação.

  • Veja também: O que o urso-polar tem a ver com inteligência artificial?
  • Minimizar os riscos de que as ferramentas algorítmicas atribuam classificações insuficientes a indivíduos capazes de desempenhar as funções essenciais da vaga com adaptações razoáveis. Portanto, é preciso (i) garantir que a tecnologia meça apenas habilidades ou qualificações realmente necessárias; (ii) garantir que as habilidades e qualificações necessárias sejam medidas diretamente ,e não inferidas a partir de outras características ou escores.

  • Solicitar a fornecedores previamente a aquisição de tecnologia, confirmação de que a ferramenta a ser adquirida não busca informações ou direciona a candidatos questões que possam elucidar informações sobre deficiência, a menos que tais perguntas estejam relacionadas aos pedidos de adaptação formulados.

O recado final é o de que o emprego de tecnologias inovadoras, bem como a aplicação inovadora de tecnologias existentes, requer cautela e planejamento, para que não discrimine alguém. Isso contribui para a manutenção da relação de confiança entre a organização e os indivíduos envolvidos e, de quebra, resulta no fortalecimento reputacional da organização.

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Paulo Vidigal, colunista do TecMundo, é sócio do escritório Prado Vidigal, especializado em direito digital, privacidade e proteção de dados. Certificado pela International Association of Privacy Professionals (CIPP/E), é pós-graduado em MBA na área de Direito Eletrônico pela Escola Paulista de Direito. Apresenta extensão em Privacidade e Proteção de Dados pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e em Privacy by Design pela Ryerson University.

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