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Olá, seja bem-vindo à Estrada do Futuro, onde conversamos semanalmente sobre a intersecção entre investimentos e tecnologia.
Entre 2020 e 2021, se você (assim como eu), foi uma das pessoas que acreditou termos avançado 5 anos em 5 meses em relação a penetração da tecnologia em nosso dia a dia, eu sinto informar: estávamos errados.
Alguns meses depois da reabertura generalizada das economias ao redor do mundo (a China como notável exceção), estamos observando uma reversão à média nos mais diversos setores que pareciam ter sido estruturalmente alterados pela pandemia.
Do e-commerce ao “work from home”, a seguir eu te mostro dados sobre como as coisas não mudaram.
E-commerce: que fim levou?
Não vou te encher o saco com a discussão sobre o futuro do trabalho. Tenho certeza que você conhece os argumentos a favor e contra o “home office” e possui uma posição pessoal em relação ao tema.
Mas que tal o e-commerce?
Todos tínhamos como estabelecida a ideia de que, no tempo, a penetração do e-commerce e de empresas como Magazine Luiza e Mercado Livre em relação ao total do varejo apenas aumentaria.
Isso é o que os economistas costumam chamar de tendências seculares. Com o início da pandemia, essa (e muitas outras) foram aceleradas.
Do dia para noite, marcas que vinham empurrando com a barriga a sua entrada no canal digital tiveram que correr contra o tempo para não perderem 100% das suas receitas devido às lojas fechadas.
Os mais preparados, como a Amazon, o Mercado Livre e o Magazine Luiza, viveram o extremo oposto: durante alguns trimestres, todos cresceram num ritmo avassalador.
Mesmo investindo horrores no crescimento da sua logística, basicamente todos tornaram-se lucrativos, tamanho a explosão na demanda.
Neste começo de 2022, porém, “e-commerce” tornou-se assunto proibido nos comitês de investimento (a não ser para propor uma posição vendida a descoberto).
Amazon, Magazine Luiza, Sea Limited (empresa holding do Shopee) mostraram importante desaceleração no crescimento, algumas com níveis inclusive inferiores aos de 2019.
No agregado, a penetração do e-commerce em relação ao restante do varejo sofreu o que chamamos de reversão à média. E isso não aconteceu apenas com o Magazine Luiza e as varejistas online brasileiras
No gráfico abaixo, a linha azul é a penetração real do e-commerce nos EUA; a linha pontilhada é uma linha de tendência seguindo os dados anteriores à pandemia.
No tempo, é como se nada tivesse acontecido.
E não foi só o Magazine Luiza e o e-commerce…
Outra empresa que recebeu o selo “5 anos em 5 meses” foi a DocuSign, famosa por digitalizar a assinatura de documentos.
Nos materiais institucionais da DocuSign, anteriores à pandemia, lia-se que menos de 7% dos contratos assinados todos os anos, ao redor do mundo, são feitos digitalmente.
Entre 2020 e 2021, as ações da DocuSign chegaram a subir mais de 500% e sua receita trimestral acelerou o ritmo de crescimento para mais de 50%.
Desde a metade do ano passado, porém, ambos voltaram aos níveis anteriores à pandemia: tanto a taxa de crescimento da receita, quanto o preço da ação.
Taxa de crescimento trimestral da DocuSign | Elaboração: Autor | Fonte: Koyfin
Outro caso emblemático é a Okta, a maior empresa independente para softwares de gestão de IDs (logins) do mercado, com aderência e penetração cada vez maior entre as grandes empresas.
A ação da Okta, em meio ao “boom” da pandemia, chegou a triplicar. De acordo com dados mais recentes da Similarweb, que mede o tráfego nos canais da Okta, o engajamento em seus produtos convergiu para o restante da indústria, ambos em níveis muito menores que os máximos alcançados em 2021.
Outro segmento com notável desaceleração foi o das fintechs — as empresas de tecnologia que atuam no setor financeiro. Essa tendência é especialmente visível nos resultados da PayPal, cuja taxa de crescimento trimestral das receitas no começo de 2022 foi a menor dos últimos 5 anos.
Uma visão geral do setor de tecnologia
Em comum, a ação de todas as empresas que eu mencionei anteriormente estão ou abaixo, ou muito próximas dos níveis em que se encontravam em março de 2020.
Para elas, é como se os “5 anos em 5 meses” nunca tivessem existido.
E claro, elas não estão sozinhas. Num momento em que os investidores estão extremamente avessos ao risco e as empresas cada vez mais focadas em geração de caixa, as empresas começam a se adaptar para o pior.
Se há 12 meses importava o crescimento a qualquer custo, hoje nenhum investidor se importa com o crescimento, se ele não vier acompanhado de rentabilidade.
Nos próximos 12 meses, enquanto as empresas se ajustam a essa nova dinâmica, acredito que surgirão oportunidades de investimento simplesmente transformacionais em tecnologia.
Oportunidades de investir em empresas incríveis, cujas tendências seculares seguem absolutamente preservadas, mas a preços que a pandemia havia nos feito pensar que nunca mais veríamos.
Falarei mais sobre isso nas próximas semanas,
Um abraço,
Richard Camargo