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Segundo pesquisa a vida nunca foi tão boa para milhões de americanos

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Esta é uma era de grande divisão política e comoção cultural. Muito mais discretamente, tem sido uma época de ampla vantagem financeira para um grande número de americanos.

Para os 158 milhões que estão empregados, as perspectivas não são tão boas desde que o homem pisou na lua. Aproximadamente a metade desses trabalhadores têm contas de aposentadoria que foram engordadas por uma alta prolongada no mercado de ações.

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Existem 83 milhões de residências ocupadas pelos proprietários nos Estados Unidos. No ritmo em que seu valor tem aumentado, muitas delas são na verdade cofres dentro dos quais vivem as famílias.

Esse boom não é muito comemorado. Foi um fenômeno de construção lenta em um país onde as notícias ficam velhas em poucas horas. Aconteceu durante um período de fascínio pelos esquemas dos verdadeiramente ricos (Musk, Elon) e num cenário de desigualdade crescente.

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Se você não conseguiu comprar uma casa por causa dos preços em disparada, o valor crescente do patrimônio dos proprietários não serve de conforto.

O mercado de ações vacilante pode ser um sinal de que o boom está terminando. Uma economia em desaceleração, inflação renovada, preços elevados do gás e taxas de juros crescentes podem minar os ganhos alcançados ao longo dos anos.

Mas, por enquanto, essa enxurrada de riqueza está redefinindo discretamente a aposentadoria, ajudando a alimentar o Vale do Silício e instigando um boom de lazer e entretenimento. Está aumentando os lucros corporativos em valores sem precedentes, ao mesmo tempo que dá a quase todos a sensação de que um emprego melhor pode estar ao alcance.

Trabalhadores se demitem voluntariamente

Mais de 4,5 milhões de trabalhadores se demitiram voluntariamente em março, o número mais alto desde que o governo começou a registrar essa estatística, em 2000, informou o Departamento de Estatísticas do Trabalho. Há alguns anos, o total mensal estava entre 3 milhões e 3,5 milhões.

“Talvez seja mais fácil focar no negativo, mas um grande número de pessoas, talvez 40 milhões de famílias, vão muito bem”, disse Dean Baker, economista que foi um dos fundadores do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, de tendência liberal.

“Você teria que voltar ao final dos anos 1990 para encontrar uma época semelhante. Antes disso, à década de 1960.”

Essa riqueza generalizada esclarece por que o número de trabalhadores que dizem esperar trabalhar além dos 60 anos caiu abaixo de 50% pela primeira vez. Ela é responsável pela abundância de startups de US$ 1 bilhão conhecidas como unicórnios –mais de mil hoje, contra cerca de 200 em 2015.

Ela oferece uma razão para o aumento do interesse em sindicalizar trabalhadores de empresas, da Amazon à Apple e Starbucks, pois os horistas procuram reivindicar sua parte. E ajuda a explicar por que Dwight e Denise Makinson acabaram de voltar de uma viagem de 12 dias pela Alemanha.

“Nosso patrimônio líquido atingiu o nível milionário devido aos nossos investimentos, que eram imprevisíveis quando nos casamos, há 40 anos”, disse Dwight Makinson, 76, aposentado do Serviço Florestal dos EUA.

O casal, que mora em Coeur d’Alene (Idaho), tem companhia. Existem 22 milhões de milionários nos EUA, estima o banco Credit Suisse, contra menos de 15 milhões em 2014.

“Eu usava cupons de descontos para comprar coisas. Uma das minhas filhas dizia: ‘Mãe, isso é embaraçoso'”, disse Denise Makinson, 66, enfermeira. “Mas acreditávamos na poupança. Agora ela também usa cupons.”

Toda transação econômica tem vários lados. Em 2000, ninguém achava os preços das casas especialmente baratos. Mas, nos últimos seis anos, os preços aumentaram no valor total de todas as moradias em 2000, de acordo com o índice Case-Schiller. Em muitas áreas dos EUA, tornou-se praticamente impossível para os inquilinos comprar uma casa.

Isso está fragmentando a sociedade. Mesmo que a taxa geral de propriedade de imóveis tenha subido em 2020 para 65,5%, a taxa para os negros americanos ficou severamente atrasada: 43,4%, inferior aos 44,2% de 2010. A taxa para os hispânicos é apenas ligeiramente melhor.

Essa disparidade pode explicar a reduzida sensação de realização. “É uma época de prosperidade, uma época de abundância, mas não parece assim”, disse Andy Walden, vice-presidente de pesquisa empresarial da Black Knight, que analisa dados financeiros.

Confiança do consumidor cai

Mesmo para os que estão indo bem, a economia parece precária. O venerável Índice de Sentimento do Consumidor da Universidade de Michigan caiu em março para os mesmos níveis de 1979, quando a taxa de inflação foi de 11%, antes de subir em abril.

O surto inicial de coronavírus encerrou a mais longa expansão econômica dos EUA na história moderna após 128 meses. Então começou uma queda drástica. O governo federal interveio, distribuindo dinheiro generosamente. Os hábitos de consumo mudaram porque as pessoas ficaram em casa. A recessão terminou depois de dois meses e o crescimento foi retomado.

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, alertou recentemente que havia muitos empregadores procurando poucos trabalhadores, dizendo que o mercado de trabalho está “apertado em um nível insalubre”. Mas para os trabalhadores é gratificante ter vantagem ao procurar um novo cargo ou profissão.

“Tanto meu marido quanto eu conseguimos fazer mudanças de emprego que dobraram nossa renda de cinco anos atrás”, disse Lindsay Bernhagen, 39, que mora em Stevens Point (Wisconsin) e trabalha numa startup. “Parece que foi principalmente sorte.”

Há uma década, o mercado imobiliário estava um caos. De 2007 a 2015, mais de 7 milhões de casas foram perdidas por execução hipotecária, de acordo com a Black Knight. Algumas delas eram compras especulativas ou segundas residências, mas muitas eram residências primárias. Incitadas pelos credores, as pessoas viviam em casas que não podiam pagar com facilidade.

Hoje o contrário é verdadeiro. As pessoas possuem muito mais casas do que tinham antes, enquanto os bancos possuem menos. Isso funciona como um escudo contra execuções hipotecárias, que em 2019 foram apenas 144 mil, de acordo com a Black Knight. (Durante a pandemia, as execuções hipotecárias cessaram principalmente devido a moratórias.)

O capital disponível para proprietários de imóveis chegou a quase US$ 10 trilhões no final de 2021, o dobro do que era no auge da bolha de 2006, segundo a Black Knight. Para o americano médio que possui hipotecas, isso equivale a US$ 185 mil (R$ 940 mil) antes de atingir as # armadilhas do empréstimo-para-valor. O número subiu US$ 48 mil (R$ 243,8 mil) em um ano –mais ou menos o que a família americana média ganha anualmente, segundo algumas estimativas.

Aqueles que dão por certo um boom muitas vezes são ofuscados pela realidade. Em maio de 2000, o empresário Kurt Andersen disse que levantar dinheiro para uma startup de mídia chamada Inside foi tão fácil quanto “transar em 1969”. Isso foi algumas semanas depois que o mercado de ações atingiu o pico. Dezessete meses e uma fusão depois, a Inside fechou. (Andersen esclareceu em um email que ele só fez sexo na década de 1970.)

Em 2000, a desaceleração das startups foi o primeiro sinal de problemas econômicos mais amplos. Desta vez, pode ser simplesmente que as pessoas estejam indo muito bem. “Famílias americanas na melhor forma em 30 anos… mas isso importa?”, perguntou o Deutsche Bank em uma nota de pesquisa no mês passado.

Sua lógica: as famílias têm mais dinheiro do que dívidas pela primeira vez em décadas, o que teoricamente é bom. Mas todo esse dinheiro está incentivando os gastos, o que impulsiona a inflação, o que força o Fed a aumentar as taxas de juros. O resultado: uma recessão no final do próximo ano.

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